No avantajado contingente de guitarristas portugueses que se movimentam nos domínios do jazz e da música improvisada, Bruno Santos está há uma década na linha da frente entre os que se perfilam na descendência estética de luminárias como Wes Montgomery e Jim Hall. Apesar destes pergaminhos, a discografia em nome próprio do guitarrista madeirense não é particularmente extensa, resumindo-se a “Wrong Way”, a estreia em 2005, e “TrioAngular”, de 2007.
Ao longo dos anos Bruno Santos veio acalentando a vontade de escrever para formações mais alargadas, desígnio que acabou por concretizar em 2011, compondo e arranjando material para o Septeto do Hot Clube de Portugal, e em 2013 com o seu próprio Ensemble, cuja estreia acaba de ser lançada pela TOAP, a sua editora de sempre.
Para tal, rodeia-se de uma assembleia de importantes músicos do panorama do jazz nacional para dar corpo sonoro a um conjunto de peças que, apesar da dimensão do efetivo, exibem os traços essenciais da abordagem que lhe conhecemos em formatos mais reduzidos. O seu guitarrismo permanece límpido e recatado, sem exibicionismos inconsequentes, e assente na segurança harmónica e na clareza melódica entroncadas no sólido conhecimento da tradição do jazz.
As suas composições, sobretudo tempos médios, revelam bom gosto, maturidade e uma sobriedade inatacável, de sabor clássico (na aceção jazzística, entenda-se). O músico tira partido da paleta instrumental que tem ao seu dispor, explorando diferentes associações e simbioses.
Merecem destaque particular o dinamismo de “30/1” – uma das melhores prestações do pianista Rodrigo Gonçalves –, o “swing” caloroso que emana de “4 Quartos” (bons apontamentos do líder e de Luís Cunha, no trombone), a mais exótica “Para Flauta Uma Valsa”(com Cunha na flauta e Paulo Gaspar no clarinete baixo) e “Quarto dos Fundos”, temperada com propósito pelo Fender Rhodes de Gonçalves.
A bela voz de Mariana Norton – quase sempre sem recurso a palavras, exceção feita a “A Donzela Atrás da Porta”, onde se alia ao trompete luminoso de Gonçalo Marques – é utilizada como se de um instrumento de sopro se tratasse, marcando indelevelmente o resultado final.
Músicos:
Bruno Santos (guitarra)
Mariana Norton (voz)
Gonçalo Marques (trompete)
César Cardoso (saxofone tenor)
Paulo Gaspar (clarinetes)
Luís Cunha (trombone e flute)
Jorge Reis (saxofone soprano e alto)
Rodrigo Gonçalves (piano e fender rhodes)
João Hasselberg (contrabaixo)
Luís Candeias (bateria)